quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Amor não se dá, troca...

Dizem que existem inúmeras formas de amor e até alguns níveis. Por exemplo, o amor sexual estaria num patamar abaixo do amor materno. Primeiro porque o amor materno não teria o desejo sexual, e em nossa sociedade, compreendemos o sexo como inferior, impuro. E segundo que, um é movido pela troca, o outro não. A mãe consegue ficar feliz apenas em ver o filho feliz, ou seja, não existe troca. Será que não?
Na maioria das vezes, com o filho, nasce um projeto, um sonho, uma nova perspectiva de vida, de uma nova vida. Na verdade, a mãe sente como se tivesse renascido, sendo o filho, um prolongamento de si, um amor próprio objetivado. Em síntese, é o sentimento de produzir uma vida em outra vida. Neste caso, os sentimentos são mais que partilhados, são correspondentes. Por isso, dizer que quem agrada o filho, agrada a mãe duas vezes, não é apenas uma idéia romântica, trata-se de fato de uma relação de correspondência, uma microprojeção. Isso prova que na relação Mãe-filho também há troca. Não é “como se fosse com ela", é “mais do que com ela", porque o filho é a projeção dela em sua plenitude. Agora sabemos que a separação entre o “Amor Materno” e o “Amor Sexual” já não pode mais se legitimar na ausência de troca, nem se deter a uma explicação mágica de uma essência maternal divina.
Na verdade, não há sentimentos divinos aplicáveis a organismos e relações humanas. Ou seja, se é algo vivido e sentido por seres humanos, torna-se humano! O grande problema não está em perceber isso, está em retirar as perspectivas negativas do conceito de Humanidade.
Quem qualificou o ser humano como imperfeito foi o conceito do Divino-Perfeito. E essa busca pela mentira da perfeição só consegue produzir indivíduos confusos e infelizes. Que esperam coisas que não vão acontecer e pessoas que nunca irão encontrar.O fato é que aqui, no mundo real, dos humanos, não há relação sem troca. E isso não é terrível! Em alguns casos é até bastante saudável.Entendendo que não há relação afetiva sem troca, nem mesmo entre mães e filhos, ficaria então mais simples entender as relações entre casais. Certo? Errado!Encontramos ainda um outro problema, novamente relacionado ao conceito negativo de Humanidade, que seria a separação entre o Amor Puro (O espiritual) e o Amor Impuro (O sexual). O Amor Puro teria relação com casamento, família, filhos ... E o outro, O Impuro, só teria relação com o sexo. O que se diz sobre esse Amor Sexual (impuro), é que ele é um sentimento inferior, carnal, mundano! E que o Amor Espiritual sim, é pra sempre e supera tudo. Tudo mesmo? Será que superaria ficar sem sexo umas semanas, uns meses ou quem sabe extinguir o tal ato pecaminoso de sua vida? Imagina só que coisa divina, não sentir mais vontade, desejo... O Amor Puro, espiritual, superaria até ficar definitivamente sem sexo, se fosse o caso! De repente, essa seria a forma mais plena de amar, retirar a parte impura da relação.
Ficaria apenas o amor puro, verdadeiro, baseado em muito respeito, companheirismo, fidelidade,só coisas boas, importantes, substanciais! Poderia até mudar a relação, para uma relação de amizade quem sabe... É! Ser amigo talvez fosse a melhor forma de expressar o amor na sua forma mais plena!Mas você não quer só amizade com a outra pessoa, é isso? Mas então o que um relacionamento entre um casal tem que uma amizade verdadeira não tem? Sexo! Somente isso, ou seja, irrelevante diante da grandiosidade que é o amor verdadeiro! Achamos uma solução então: Serão amigos! Ou seja, não importa com quem a pessoa que você ama sai, nem se ele(ou ela) vai ao delírio com um fulano ou fulana de tal, o que importa é que você está ali do lado, pra tudo, não é verdade? Não? Então quer dizer que o tal amor puro, não é capaz de conviver com a idéia de que a pessoa amada pode vir a fazer sexo com outra pessoa? Mas se o sexo é uma coisa tão irrelevante diante da grandiosidade do Amor!
Não importa com quem a pessoa dorme, o nome da pessoa que ela repete o tempo inteiro, a pessoa que ela pensa, deseja, não importa! O que importa é que você a ama e supera tudo isso, não é verdade? Não? Mas por que não? Não vai me dizer que uma paixãozinha de nada é capaz de abalar um laço tão transcendental? Ciúmes? Que isso! Isso não é amor, é sentimento de posse!Não seja materialista!A pessoa que ama quer ver a outra feliz, independente de com quem seja, isso que é amor de verdade! Deixe que a pessoa saia com quem quiser e depois te conte em detalhes, e nesse momento, ao invés de querer esganar a “talzinha” ou empurrar o “fulaninho” na linha do trem, respire fundo e lembre-se: Você tem um sentimento puro em seu coração e isso ninguém tira de você! Sim! Mas e aí? Ninguém tira, ninguém bota, ninguém nada e você aí, na companhia de si mesmo e do seu grande amor divino, a espera de uma nave espacial que os levem para algum lugar além das nuvens.
É, porque por aqui será difícil de ser feliz! Até porque, o amor sexual não é divino, é tão humano quanto o ciúme, o medo, o orgulho. Mas o fato de não ser divino não diminui a sua beleza e profundidade.Na verdade, eu acho que quem criou esse conceito solitário, sofrido e assexuado de amor, deve ter feito uma pesquisa de campo em Marte, e assim chegou a essas conclusões intergalácticas sobre as relações afetivas. Porque as relações humanas são baseadas em trocas, por isso são chamadas de relações. Alguém oferece algo e recebe algo, mesmo que o fato de oferecer cause algum tipo de sensação de bem estar que corresponda ao “Receber”. Mas sempre haverá cedente e receptor. Até nos amores platônicos existem trocas, mesmo que implícitas. E o desejo sexual não é algo a ser inferiorizado, assim como a necessidade de troca.O que diferencia um relacionamento de casal para uma amizade, é o desejo sexual. A amizade é uma outra forma de relação, que não se encontra em nenhum patamar acima nem abaixo das demais relações. O que é necessário compreender, é que não existem níveis de amor, existem níveis de relações.
Os amantes, os amigos, os pais, os irmãos, os amantes platônicos, todos amam e todos estabelecem relações de troca a sua maneira, porque isso faz parte da natureza humana.Um amigo ajuda o outro, porque um dia foi ajudado ou porque sente que se algum dia precisar, será ajudado, essa é a troca. Um amante ama e deseja ser amado , precisa sentir isso para continuar amando , é uma troca saudável!E por falar em troca, vamos pensar no sentido da palavra. Geralmente se troca algo que não precisa por algo que precisa. Ou algo que precisa menos por algo que precisa mais. O fato é que o intuito da troca é sempre de trazer para si algo melhor, mais do que aquilo que doou. Então agora, que já estamos conscientes de que não tem ninguém aqui puro e absolutamente desinteressado no tesouro do outro, vamos começar a trocar coisas boas, bons sentimentos, construindo assim, relações felizes.

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